domingo, 7 de novembro de 2010

Maria, a Mãe de Jesus, a primeira Madre em seu próprio deserto






No passo que damos hoje vemos diante dos nossos olhos a história das mulheres na “igreja doméstica lucana”. Aqui, e no Evangelho de S. Lucas, se vê a intensa atividade das mulheres na Igreja primitiva. Começamos com Maria, a Mãe de Jesus, que inaugura a nova família de Deus.
O Arcanjo Gabriel é o primeiro devoto da Virgem de Nazaré. A mulher mais bela de corpo e alma, a beleza de seu interior transcende seu natural agraciado. Segundo a tradição, é filha de Joaquim e Ana. Tem quinze anos e desde a sua apresentação no templo foi educada no colégio das virgens perto do templo de Jerusalém. Se foi assim a realidade, não sabemos; ainda que um pouco desentoem este relato na história de Maria, a Mãe de Deus.
Pouco depois de casar-se com José, devido ao senso promulgado pelo Imperador Augusto, ele toma Maria e marcham para Belém.
Se Jesus disse de si mesmo “que não tinha onde reclinar a cabeça”, sua Mãe vive a existência na sombra desta afirmação do Filho: não tem nada, é pobre por excelência, tudo o recebe dia a dia da Providência. O deserto de Maria é total. Sua vida é uma desinstalação absoluta.
Dado o tratamento que fez S. Lucas da casa e da mulher, o contraste que supõe o relato da Anunciação e vocação de Maria, surpreende que não se situe Maria em uma casa. Diz o texto que o anjo entra onde ela estava. Nada diz da possível casa. Surpreende também que, S. Lucas dá uma ênfase quando fala de Zacarias e Isabel, o que não acontece com Maria. Ela, diferente de seus primos não tem genealogia e sua classe social não pode ser mais inferior: mulher, leiga, jovem, não casada, de uma cidade sem relevância e de uma região tão suspeita como a Galiléia, pouco religiosamente falando. Nas palavras próprias, se situa entre os pobres. O Magnificat nos lábios de Maria tem voz própria. A diferença com Zacarias: homem, casado, sacerdote, ancião, justo, de Jerusalém, é notável. Assim, Maria, da que não se fala de família alguma (pais e ancestrais), que não é filha, irmã de..., senão tão somente que era uma mulher prometida, vai receber tudo gratuitamente de Deus. A partir do zero. Por isso pode ser pessoa de referência para uma nova e total inclusão. De baixo e do zero será valorizada por aquilo que Deus desejava fazer nela. A partir de Maria, qualquer pessoa pode pertencer a categoria social dela.
Na Anunciação, Deus não vai a nenhum espaço físico mas ao corpo de Maria. Tudo o que se desenvolve na cena, termina, adequadamente, na resposta. Sua fórmula: escrava do Senhor, indica, em efeito, qual era sua pertença, qual a sua casa e qual sua família. Os escravos se definiam a si mesmos por seu senhor. A família do dono era a família do escravo, o estado social do dono repercutia na dignidade do escravo. Maria, escrava do Senhor, é da família de Deus. Ela, portanto, em clara ruptura e contraste com sua cultura e com Zacarias, não tem mais ascendência que Deus.
Quando Maria vai à casa de sua prima Izabel, a casa agora será o lugar do Espírito e dos sinais do Espírito em claro âmbito feminino: duas mulheres e um menino se estremece no seio de sua mãe. O Espírito pela primeira vez no Evangelho, antes inclusivamente a Jesus, a uma mulher e a seu filho através de outra mulher. Ela leva a nova notícia. Ela, em seu corpo, começa uma nova casa, uma nova genealogia. No Evangelho começa já a expandir-se através de uma mulher.
Quando Maria se chama pequena ou pobre, em seu canto do Magnificat, antecipa já em si mesma a inclusão desta família: os pobres eram todos aqueles aos que se haviam negado o reconhecimento social por critérios de gênero, idade, bens econômicos ou pureza. Com Maria começa a inclusão da nova família de Deus. Ela, assim, uma vez superada as crises da família de Jesus, pode simbolizar na casa de Pentecostes a inclusão dos diferentes grupos que se chamam a si mesmos família de Jesus, desde diferentes critérios, antecipando o único e verdadeiro laço que faz a família: o Espírito que está com ela desde a Anunciação.
Que nos resta dizer da Virgem Maria? É a Mãe acolhedora por excelência!
A Virgem Mãe sorveu o cálice de toda a dor e sofrimentos na mistura cujo ingrediente principal é o pecado.
De fato este Mãe Santíssima viveu como nenhuma outra criatura a entrega ao Deus Único, amando-o com todo o coração, com toda a alma e com toda a sua vida. Uma vida de entrega, de renúncia, de generosidade. Que Maria interceda por nós nesta estrada de conversão e do conhecimento do verdadeiro Amor.

Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

Um comentário:

  1. Madre Rosa, a paz!!

    Obrigada por tão bela formação que nos tem enriquecido na fé e nos tem feito desejar viver o deserto que viveram as mulheres servas de Deus!!
    Que pela intercessão de Maria, possamos aprender a ser pobres, escravos da vontade do Senhor, sem nenhuma ascendência, que não a de Deus!!
    Que possamos, como disse nosso querido Pe. Mateus na homília de sábado, ser homens e mulheres sem face, para que nossa face seja definida pela face de Nosso Senhor, Jesus Cristo!!

    um grande e fraterno abraço

    Lu

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