domingo, 10 de abril de 2011

Madres do Deserto – Santa Eufrosina – Parte II





Continuamos o relato da outra semana, quando chega até Eufrosina o monge do mosteiro do abade Teodósio...

Era um ancião pleno de bondade. Antes de qualquer decisão, ela quis pedir conselho também a ele: “O que pensa meu senhor, tenho um pai cristão, o qual, em nome das riquezas deste mundo, confiar-me a este mundo de iniqüidade, coisa que eu não quero. Que devo fazer?” o ancião respondeu com uma citação do Evangelho: “Se um vem Amim e não odeia seu pai, sua mãe, a mulher, os filhos, os irmãos, as irmãs e enfim, a própria vida, não pode ser meu discípulo.” Agora, ela confiou-se às suas mãos. Ele colocou-se a rezar, depois cortou de um modo ritual, os longos cabelos, a revestiu com uma roupa penitencial e, depois de ter dado a benção, deixou aquela casa.
Eufrosina havia realizado a primeira metade da sua decisão: tornou-se uma virgem consagrada a Deus, segundo os ritos da igreja. Mas não queria permanecer uma simples asceta que servia ao Senhor em casa. Tinha sede de uma vida de maior penitência. Porém, sabia que seu pai era um tanto obstinado e duro que não respeitaria o empenho que ela havia iniciado. Tirou a túnica, colocou roupas masculinas e olhou-se no espelho. Permaneceu maravilhada: com os cabelos curtíssimos e as roupas masculinas, não se reconhecia mais. Saiu toda inebriada da sua audácia, com o coração que batia. Sim, ela pegou a resolução. E confiou a Deus o bom êxito. Pelas estradas da cidade, aquele belo jovem que ninguém conhecia correndo, com pernas leves, atravessou os arredores, chegando ao mosteiro onde a festa tinha apenas acabado. Estavam apagando as velas da igreja. “Diga ao padre abade – pediu ao porteiro – que um jovem deseja vê-lo agora?”. A fez entrar no parlatório, pouco depois abade Teodósio apareceu. Ela o observava. Nem mesmo ela a reconheceu. Procurando de deixar sua voz mais grave, ela começou a dizer, com toda desenvoltura: “Padre, sou um eunuco e quero encontrar a conversão neste mosteiro.” E permaneceu em espera, com a garganta apertada. Não, o santo padre não tinha reconhecido nem mesmo a voz. Ele rezou. Depois levantou a cabeça e procurou os seus olhos. “Fez bem em vir até nós, meu filho. Se este mosteiro te parece aquele apto para fazer penitência, com alegria te acolho. Qual é o teu nome? “Esmerado”. A espertinha tinha pensado em tudo. “Bem, esmerado, filho meu, começará o período de prova.”

As coisas aconteceram como Eufrosina havia pedido ao Senhor. O abade chamou um velho monge de nome Agápito, consumado na santidade. “Confio-te este jovem – lhe disse – se chama Esmerado. Será teu filho e teu discípulo. Pegue sob o seu cuidado e educa-o ao ponto que supere o seu mestre.” Mas o incansável postulante, por quantos esforços fizesse para assumir um aspecto viril, ainda tinha muito charme. Agapito, sendo um homem esperto, fez uma careta e disse ao abade: “Nos trouxe um rapaz um pouco efeminado. Turbará o coração de alguém. Sabe bem que o diabo é sempre pronto para aproveitar de certos rostos atraentes.” Teodósio não quis insistir. Mas preparou uma cela para o irmão Emerado e conduziu-o até ela, ele mesmo. “Irmão, lhe disse, viverá sob o cuidado do padre Agápito, como um verdadeiro solitário. Será nesta cela isolada que recitará o ofício e tomará as refeições.

Ao mesmo tempo, Pafanúcio voltou para casa. Ancioso para contar à sua filha sobre a festa que havia participado foi bater à porta de seu quarto. Mas Eufrosina não estava. Fez com que a procurassem em toda a casa, mas ninguém sabia o que havia acontecido com ela. Mandou pedir informações ao futuro sogro, mas este não sabia de nada. Pafanúcio estava aflito. Prostrado em um ângulo, procurava uma explicação. “Certamente – lhe disse o futuro sogro – um homem a seduziu. E ela escapou com ele.” O pai, porém tinha uma idéia bem mais alta de sua amada filha. Suspeitava que aquela fuga tivesse sido inspirada por uma razão mais santa. Pegou seus servos e servas e mandou em todos os lugares onde Eufrosina poderia ter encontrado refúgio: mosteiro de virgens, eremitágios, grutas; não foram deixadas de olhar nem mesmo as casas de famílias. Em vão. Agora Pafanúcio iniciou a desesperar-se. “Ah! gemia minha dulcíssima filha, consolação dos meus olhos! Quem dissecou a minha vinha? Quem me raptou a minha esperança:” E porque nenhuma criatura no mundo podia enxugar suas lágrimas, foi encontrar seu amigo Teodósio, que lhe deu consolações divinas e invocou todas as orações da comunidade para o retorno do filho pródigo.

Continuamos na próxima semana...
Fiquem na Paz!

Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...