quinta-feira, 5 de junho de 2014

A VERDADEIRA BOMBA DE HIROSHIMA


 

                        Quando o Espírito Santo suscitou o Concílio Vaticano II, tão criticado por aqueles que se apegam às formas exteriores e desprezam o conteúdo do depósito da fé, Ele, na Sua Onisciência, sabia que o leigo haveria de salvar a Igreja. O Espírito Santo sabia que a Igreja de Cristo, que segue a mesma sorte do Seu Esposo, flagelada se encontrava, e mais flagelada ainda seria. Por algum estranho desígnio de Deus, a Igreja de Jesus Cristo parece ter estacionado na sexta-feira santa; às vezes, parece mesmo ter estacionado na quinta do lava-pés, pois Judas continua misturado com os apóstolos.

 

                        Perdoem-me o excesso de franqueza ou de pessimismo, mas não há quem, olhando para a situação da fé católica no Brasil, não depare com um desolador cenário de guerra. São miríades e miríades de cadáveres insepultos, de aleijados, de amputados, de inválidos, de queimados, de deformados espirituais que pululam aqui e ali, julgando-se ainda pertencentes às fileiras da Igreja Militante. São almas assassinadas, destroçadas, corrompidas, embotadas e amputadas por toneladas de lixo teológico. A bomba de Hiroshima destruiu corpos e vidas; mas a hecatombe da teologia da libertação arrasou almas, matando nelas a graça santificante, ridicularizou dogmas, menoscabou sacramentos, devastou dioceses, esvaziou paróquias, desesperou pobres, difamou ricos e, de quebra, lotou as igrejas protestantes.

 

                        Certa vez um sacerdote muito instruído e piedoso disse-me: “qualquer irreverência para com Jesus Eucarístico é mais grave do que uma guerra, em razão da dignidade da pessoa ofendida. Na guerra, ofendem-se homens; no desrespeito à Hóstia Consagrada, ofende-se a Deus diretamente”. Basta refletirmos nessas palavras, muito sábias, muito justas, para percebermos que o flagelo, a hecatombe nuclear ainda persiste.

 

                        É claro que há muitos sacerdotes e bispos santos, mas, por outro lado, há também dioceses em que a falta de respeito, o achincalhe, diria quase a zombaria, para com Jesus Eucarístico parece ter virado norma obrigatória, regra de conduta. Abrindo um parêntese, gostaria de fazer notar que a página mais dura do Evangelho é justamente aquela em que Jesus Cristo pegou do chicote com inflamada ira para fazer cessar imediatamente a profanação do templo.

 

                        Se Nosso Senhor me permitir hoje, eu gostaria de pegar emprestado o Seu chicote e beber do cálice da Sua ira. Porque muitos de nossos templos têm sido diuturnamente profanados, e com tal desfaçatez, que não é possível que a coisa continue dessa forma.

 

                        Na Igreja Nossa Senhora do Carmo do Sion, em Belo Horizonte, Minas Gerais, permite-se que um herege zombe de Jesus Cristo, do culto à Virgem Maria e brinque de celebrar Missa. Ora, o templo é sagrado. Não há razões diplomáticas que justifiquem a profanação do templo por um ex padre que zomba da Eucaristia e encena, na presença Dela, uma afrontosa peça de teatro.

 

                        Em outras paróquias da mesma diocese (não digo que sejam todas; há exceções!), é comum verem-se pessoas adultas assistindo às Missas com roupas de fazer caminhada, shorts ou calças tão apertadas que mostram quase os contornos da alma. É tal a ideia que as pessoas têm da liturgia, que a Missa vira um anexo da caminhada, uma “escapadinha” do exercício físico. Elas não têm a compreensão de que estão realmente diante do Calvário, da Paixão do Senhor, que se atualiza, que se realiza de forma incruenta, diante de seus olhos. Não entendem que só há uma Missa: a do Calvário, que não é repetida ou relembrada, mas simplesmente atualizada, tornada presente. Nem são disso esclarecidas.

 

                        Não sei quantas vezes já tive de pedir a pessoas que nem conheço que não mascassem chicletes dentro da Igreja e, sobretudo, durante as Missas. Duas ou três vezes impedi, pela força da argumentação, que indivíduos recebessem a comunhão mantendo ainda a goma de mascar na boca. Em outra ocasião, reparei que a pessoa não ousou comungar com o chiclete, mas poucos instantes antes da comunhão, colou-o na parte inferior do banco.

 

                        Ora, a boa educação já exigiria que, por respeito aos outros, aos demais fiéis, se honrasse um lugar, um ambiente, uma celebração que para eles são sagrados. Um comportamento condizente com o lugar seria o mínimo que o bom tom e a boa educação exigiriam. Mas, o caso é mais grave, há profanação do templo, violação de direitos divinos.

 

                        O cenário é apavorante; é devastador. É a própria abominação da desolação, de que nos fala o Evangelho, que tomou o templo.

 

                        Não se explica aos fiéis que também as vestes e o comportamento devem corresponder à dignidade da pessoa com quem se encontra. Ninguém vai dirigir-se a um monarca ou chefe de estado trajando short de caminhada, agitando uma goma de mascar na boca e calçado de sandálias havaianas... Há pessoas que se assentam numa Igreja como se estivessem num banco de praça; ficam escornadas, de pernas cruzadas, falando alto e gargalhando. Muitas vezes, conversando no celular. É um calamitoso cenário de guerra.

 

                        Há paróquias em que os livros litúrgicos, os lecionários, não se encontram em boa ordem, em situação digna. Às vezes, andam sujos, engordurados, mal cuidados. Dão até nojo de serem tocados.

 

                        Isso sem falar nessas fábricas de comunhões sacrílegas que são as confissões comunitárias, realizadas com evidente abuso e que dão a falsa impressão aos participantes de que podem ficar anos sem confessar individualmente os seus pecados graves.

 

                        Há sacerdotes que proíbem os fiéis de ajoelharem-se no momento da consagração, institucionalizando uma espécie de anarquia litúrgica, pois não estão revestidos de autoridade para tal.

 

                        Outros, impedem os fiéis de exercerem o seu legítimo direito de receber a comunhão na boca, ou ajoelhados. Outros ainda, institucionalizam a comunhão ‘self service’: o próprio fiel toma a Hóstia e a molha no vinho, sendo que, na verdade, é Cristo que Se doa, é Cristo que Se entrega a nós. Se é Cristo que se doa, é o sacerdote ou o ministro que devem entregar a Hóstia ao fiel. Há um profundo significado teológico nas normas litúrgicas.

 

                        Não, meus amigos! Não é possível continuar assim!

 

                        De que adianta, por exemplo, construir uma nova catedral se as pessoas não são ensinadas a se comportar dignamente dentro dela? Desejam-se novas profanações, novos vilipêndios? De que adianta construir uma igreja de pedra se não se constrói ao mesmo tempo uma bela igreja espiritual, de pessoas vivas, verdadeiros adoradores, que são os que o Pai deseja?

 

                        O povo é bom, e aqui retomo a ideia inicial, o povo é espiritual por natureza. Ele sente o rastro, sente o cheiro de Deus. O povo só não tem sido formado, só não tem sido instruído. Os teólogos da libertação quiseram colocar o povo no lugar de Deus, como se ele, o povo, fosse um bezerro de ouro, o destinatário da liturgia, da celebração eucarística. Não! A liturgia é obra de Deus, para Deus. É Cristo quem celebra a Eucaristia, oferecendo-Se a Deus Pai por nós. O povo é bom e reconhece que não pode tomar o lugar de Deus.

 

                        O Espírito Santo, conhecendo os tempos difíceis por que passaria a Igreja, conferiu maior importância aos leigos. Muitos leigos têm feito uma heroica ação benfazeja, estudando e ensinando aos demais a doutrina e as normas da Igreja, coisa que competiria primariamente ao clero. São esses leigos, que exigem a comunhão na boca, que se ajoelham na hora da consagração, que são ciosos dos seus direitos e dos direitos de Jesus Cristo, que estão fazendo a diferença.

 

                        Louvado seja o Divino Espírito Santo! Bendito seja o Concílio Vaticano II!

 

 

 

Paul Medeiros Krause

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