sábado, 16 de novembro de 2013

Blood Money - Aborto Legalizado (Vídeo)




Perplexidade. À primeira vista, sem dor e nem piedade. É este o efeito que "Bloodymoney - Aborto Legalizado" provoca no espectador. O resultado é vê-lo lançado numa necessidade imediata de reflexão sobre a questão.

O tema está em ebulição no Brasil. Nada menos do que 34 projetos foram registrados no Congresso - e estes foram limitados a nove. Todos pedem a legalização do aborto sob as mais diversas situações - má formação congênita, anencefalia, estupro, pedido pessoal da mãe, etc. Há até um projeto - apelidado de "Bolsa-Estupro" - que sugere o pagamento, durante 18 anos, para a mãe que não pratique o aborto em casos de gravidez gerada por estupro. A ação, polêmica, visa reduzir o número de abortos.

Quanto ao tema, em 4 de julho passado, em uma ação de "regime de urgência" do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PMDB, cujo tramite durou apenas dois meses e sem qualquer pedido de emenda, o Congresso aprovou o Projeto de Lei 60/1999, renomeado Projeto de Lei Originário da Câmara, ou PLC 3/2013, o qual praticamente legaliza o aborto, que agora só aguarda a aprovação da presidente Dilma Roussef.

Em outra frente, o Estatuto do Nascituro procura estabelecer a proibição do aborto em qualquer situação, mesmo quando a gravidez envolve riscos de morte para a gestante. Não apenas religiosos, grupos feministas e ateus envolvem-se em argumentações sobre o direito ou não da prática (ou à vida, daqueles que ainda não podem argumentar), quando a existência humana é a maior razão do sentido de humanidade.

O contexto

O grande lance de "Bloodymoney" é de estabelecer o tema no campo da existência humana. Não há lados religiosos envolvidos, mas uma nação, os EUA, que há 40 anos assumiu uma postura de liberar o aborto legalmente, depois de um processo polêmico de uma mulher que pediu a justiça para abortar (embora depois tenha se arrependido). Hoje, o aborto é poderoso como uma indústria legal. Os planos de saúde, as clínicas, alguns profissionais da classe médica, entre outros, envolve-se em um trabalho que adentra as escolas, bairros de pessoas de baixa renda e até as próprias universidades em busca de manter a sua lucratividade na oferta de abortos rápidos e baratos. Tudo é explicitado no filme.

"Blodmoney", produção financiada pelo grupo anti-aborto Pro-Life (Pró-Vida), custou meros US$ 300 mil. David K. Kyle, autor do roteiro, assumiu a produção e a direção. Não se pode deixar de dizer que seu trabalho é digno e eficiente na exposição de sua proposta, que a condenação do sistema dos planos de saúde dos EUA na exploração da legalização do aborto.

A personagem central do filme é a Dra. Alveda King, sobrinha do líder libertário Martin Luther King (1929-1968). Ativista do movimento Pró-Vida, ela é uma defensora das minorias de seu país e tem participado de diversos atos públicos, entrevistas, assim como também marca a presença em documentários, filmes e séries de televisão que expõem os dramas dessas comunidades nos Estados Unidos.

O tema no cinema

Há destaques para documentários como "Maafa 21" (2009), de Mark Crutcher, que revela as práticas implantadas contra os negros e que perduram até a atualidade; "Life Happens" (2010), de Ashley Greyson, sobre as mães e filhos que escaparam do aborto; e "Runaway Slave" (2012), de Pritchett Cotten, sobre a comunidade afro-estadunidense explorada praticamente de forma escravagista, além de duas séries de televisão, "Walk for Life West Coast" (2008) e "Just in with Laura Ingraham" (2008).

O que mais impacta em "Bloodmoney" é o seu caráter existencialista que se deflagra através dos depoimentos de dezenas de mulheres que praticaram o aborto e, de forma irreversível, lidam com os seus dramas íntimos - as dores do corpo, da alma e da consciência. Além das marcas físicas, a devastação psicológica do sentimento de culpa.

"Bloodymoney" não é um daqueles filmes edificantes ou condenatórios. Há uma exposição jornalística do tema e a revelação do outro lado até agora inexplorado: a próprio aborto. Na tela, impactam as histórias de mulheres que o praticaram sejam como agente ou como paciente. Consequências. Sim, em qualquer ação de livre-arbítrio há sempre uma ou várias consequências, lei natural da existência. Está no filme.

Daí, a busca de "Bloodmoney" é a da reflexão. Ao deixar a religião de lado, o filme tenta afastar a acusação de panfletário ou tendencioso e abre espaço para uma avaliação no campo humano. No choque da perplexidade a reflexão se impõe como a única saída.

PEDRO MARTINS FREIRE
CRÍTICO DE CINEMA 




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