quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Meditação do Frei Raniero Cantalamessa, O.F.M. sobre a Bíblia


Queridos irmãos, queridas irmãs, a paz! Neste mês da Bíblia, gostaria de compartilhar com vocês esta meditação do Frei Raniero Cantalamessa, O.F.M., pregador da Casa Pontifícia.

“Assim como na encarnação Jesus se oculta sob o véu de carne e na Eucaristia sob o véu do pão, assim também na Escritura Ele se oculta sob o véu da linguagem. Na encarnação, Deus se oculta na “baixeza da natureza humana”; na Escritura, oculta-se na baixeza da linguagem humana”.

A natureza sacramental da Palavra de Deus é mostrada na ocasião em que de maneira visível opera além da compreensão do ouvinte, que pode ser limitada e imperfeita; ela opera praticamente por conta própria. Quando o profeta Elias foi curar Naamã, o Sírio, de lepra, mandou que se lavasse sete vezes no Jordão, e Naamã respondeu irritado: “Não são os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles para ficar purificado?” (2 Rs 5, 12).

Naamã estava certo: os rios da Síria eram inquestionavelmente melhores e abundantes; contudo, ao lavar-se no Jordão ele foi curado e sua carne tornou-se como a de um garotinho, algo que jamais teria acontecido se tivesse se lavado nos grandes rios de seu país.

Assim é com a Palavra de Deus contida nas Escrituras. No mundo e até mesmo dentro da Igreja, houve e haverá livros melhores do que alguns na Bíblia – de um refinamento literário maior e, religiosamente falando, mais edificantes (basta mencionar a Imitação de Cristo); todavia, nenhum desses produz o efeito que o mais modesto dos livros inspirados produz.

Nas palavras da Escritura há algo que está acima e além de qualquer explicação humana; há uma óbvia desproporção entre o sinal e a realidade produzida por isso, que de fato nos faz pensar na maneira como os sacramentos atuam. “As águas de Israel”, as Escrituras divinamente inspiradas, ainda curam a lepra do pecado de hoje. Tendo sido lida a passagem do Evangelho na Missa, a Igreja convida o ministro a beijar o livro e a dizer: “Que as palavras do Evangelho possam apagar os nossos pecados!”

Em Relatos de um Peregrino Russo, lemos a respeito de muitas pessoas curadas do vício da bebida, graças à resolução de ler um capítulo do Evangelho toda vez que sentiam vir uma necessidade compulsiva por um drinque...
Ao recomendar essa prática, um monge disse: “Nas mesmas palavras do Evangelho há um poder de dar a vida, pois nelas está escrito o que Deus mesmo pronunciou. Não se preocupe se você não entender apropriadamente; é suficiente se você as ler atentamente. Se você não entende a Palavra de Deus, os demônios com certeza entendem o que você está lendo e eles tremem” (Relatos de um Peregrino Russo2).


Fonte: O Mistério da Palavra de Deus, por Frei Raniero Cantalamessa, O.F.M., Edições Shalom

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