domingo, 26 de agosto de 2012

Vocação e Caráter

A Psicologia refere-se à subjetividade humana por três termos, cada um deles significando perspectiva distinta: temperamento, caráter e personalidade. É sempre o mesmo homem, como que visto na linha do tempo, pelo passado (que continua presente), pelo presente e pelo futuro (que também está no presente). Trata-se de distinção em Filosofia recebe a denominação de real-formal, algo real mas que só é percebida pela inteligência. Os animais são incapazes de distinguir esse tipo de coisa.

A ideia contida em cada uma dessas denominações é: a) temperamento corresponde ao homem visto a partir do que ele herdou, a partir da hereditariedade; b) caráter, ao que ele se tornou em resultado das escolhas e decisões que tomou ao longo de sua história pessoal; c) personalidade, a maneira como o homem manifesta sua adaptação à vida de relação, tanto com os de sua vida privada e íntima quanto com os da vida social e profissional.

No temperamento percebe-se a vocação; no caráter, o talento; na personalidade, a adaptabilidade social, o homem como ser de relação, como “homem político”, como criatura vocacionada a viver na “polis”, na cidade. Aqui interessa o caráter, aquilo que o homem se torna em resultado das escolhas que faz.

Esta instância do homem, o caráter, é de suma importância. Tanta que por ela podemos entender a importância que Jesus dá à fé (palavra que mais repete) em razão de ela resultar de decisão livre. “Tua fé te salvou”(Mat 9, 22), disse Jesus à mulher com fluxo de sangue de doze anos, curada ao tocar no Seu manto quando Ele foi ressuscitar a filha de Jairo, chefe da sinagoga. A fé é decisão livre do espírito; o caráter é resultado desta e outras decisões, igualmente livres. Fé e amor, caráter e personalidade, atividade e passividade, são pares que se dão juntos; pois a fé afirma e o amor aceita, do mesmo modo que o caráter impõe e a personalidade adapta-se.

É de se crer que muitos desvios vocacionais se baseiem em questões de caráter, que ao se afirmar, pode fazê-lo de maneira inadequada. Uma das causas desse desvio é a desagregação da família.

A família deve tornar-se tão invisível para a alma do homem como o ar que respiramos. É necessário que o homem possa sentir-se pertencendo a uma família, sem ter de pensar a respeito, onde as crianças possam dizer “meu” pai e “minha” mãe com a força máxima que tais pronomes possuem na alma do homem. E quando digo que a família deve ser algo invisível para o homem é porque tudo quanto é elemento que integra naturalmente a vida possui a invisibilidade como qualidade. Assim, só lembramos da importância do ar ou da luz quando somos afetados por problemas respiratórios ou oculares. Lembramos que possuímos pulmões senão quando nos falta ar; lembramos que a luz do sol é fundamental quando sentimos dificuldade em ler o que antes líamos com facilidade.

Quando o ar falta ou a luz parece não ser suficiente, há as máquinas de oxigênio e os óculos. E quando falta a família? O homem então se esforça por dar-se uma. Passa a escolher e preterir amizades, formando então seu caráter. Nesta busca por uma “família”, a vocação adquire uma importância aumentada. Porque sentirá como família principalmente aquelas pessoas que façam vibrar sua veia vocacional. A elas se associa e, por espírito de gratidão, desenvolve inadvertidamente o chamado “respeito humano”, quando então rejeita o que deveria ser aceito por fé e só aceita o que for aprovado pelas luzes da razão; valoriza a estética em detrimento da caridade; exacerba a importância da realidade que imagina em detrimento da que se vive no dia-a-dia; mergulha em razões psicológicas e julga proceder racionalmente. Com tais procedimentos, sente-se seguro, porém de uma falsa segurança que não conquista a adesão de toda sua a alma.

Quando mais desagregada a família, maior a dificuldade para vencer a tentação do desvio vocacional.

É pertinente com as reflexões acima a preocupação com as consequências possíveis da decisão proferida por um juiz do interior de SP, no dia 23 passado, que reconheceu a chamada “união poliafetiva”, eufemismo de “poligamia”. Tal decisão, caso seguida por outros juízes, será mais um duro golpe na família brasileira, cujos pais perderão o pouco de força que ainda possuem para bem educar os próprios filhos.

Joel Nunes dos Santos, em 24 de agosto de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...