terça-feira, 12 de junho de 2012

Aprendendo com o Papa João Paulo II sobre o Rosário (cont.)



Queridos irmãos, queridas irmãs, a paz! Dando continuidade ao nosso propósito de conhecer melhor o nosso Rosário para amá-lo mais, chegamos hoje ao Capítulo III da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, do qual fizemos um pequeno resumo: 

A meditação dos mistérios de Cristo é proposta no Rosário com um método característico, apropriado por sua natureza para favorecer a assimilação dos mesmos. É o método baseado na repetição. Isto é visível sobretudo com a ave-maria, repetida dez vezes em cada mistério. Considerando superficialmente uma tal repetição, pode-se ser tentado a ver o Rosário como uma prática árida e aborrecida. Chega-se, porém, a uma ideia muito diferente, quando se considera o Terço como expressão daquele amor que não se cansa de voltar à pessoa amada com efusões que, apesar de semelhantes na sua manifestação, são sempre novas pelo sentimento que as permeia. 

Uma coisa é clara! Se a repetição da Ave Maria se dirige diretamente a Maria, com Ela e por Ela é para Jesus que, em última análise, vai o ato de amor. A repetição alimenta-se do desejo duma conformação cada vez mais plena a Cristo, verdadeiro “programa” da vida cristã. O Rosário ajuda-nos a crescer nesta conformação até à meta da santidade. Na realidade, trata-se simplesmente de um método para contemplar. E, como método que é, há de ser utilizado em ordem ao seu fim, e não como fim em si mesmo. Mas, sendo fruto duma experiência secular, o próprio método não deve ser subestimado. Abona em seu favor a experiência de inumeráveis Santos. 

Isto, porém, não impede que seja melhorado. Tal é o objetivo da inserção, no ciclo dos mistérios, da nova série dos “mysteria lucis” (mistérios da luz), juntamente com algumas sugestões relativas à recitação, que proponho nesta Carta. Sem isso, o Rosário corre o risco não só de não produzir os efeitos espirituais desejados, mas até mesmo de o terço, com que habitualmente é recitado, acabar por ser visto quase como um amuleto ou objeto mágico, com uma adulteração radical do seu sentido e função. 

A enunciação do mistério 
Enunciar o mistério, com a possibilidade até de fixar contextualmente um ícone que o represente, é como abrir um cenário sobre o qual se concentra a atenção. As palavras orientam a imaginação e o espírito para aquele episódio ou momento concreto da vida de Cristo. 

A escuta da Palavra de Deus 
A fim de dar fundamentação bíblica e maior profundidade à meditação, é útil que a enunciação do mistério seja acompanhada pela proclamação de uma passagem bíblica alusiva, que, segundo as circunstâncias, pode ser mais ou menos longa. De fato, as outras palavras não atingem nunca a eficácia própria da palavra inspirada. Esta há de ser escutada com a certeza de que é Palavra de Deus, pronunciada para o dia de hoje e “para mim”. Não se trata de trazer à memória uma informação, mas de deixar Deus “falar”. Em ocasiões solenes e comunitárias, esta palavra pode ser devidamente ilustrada com um breve comentário. 

O silêncio 
A escuta e a meditação alimentam-se de silêncio. Por isso, após a enunciação do mistério e a proclamação da Palavra, é conveniente parar, durante um côngruo período de tempo, para fixar o olhar sobre o mistério meditado, antes de começar a oração vocal. A redescoberta do valor do silêncio é um dos segredos para a prática da contemplação e da meditação. 

O pai-nosso 
Após a escuta da Palavra e a concentração no mistério, é natural que o espírito se eleve para o Pai. Em cada um dos seus mistérios, Jesus leva-nos sempre até ao Pai, para Quem Ele Se volta continuamente porque repousa no seu “seio” (cf. Jo 1,18). Quer introduzir-nos na intimidade do Pai, para dizermos com Ele: « Abbá, Pai » (Rom 8, 5; Gal 4, 6). O “pai-nosso” torna a meditação do mistério, mesmo quando é feita a sós, uma experiência eclesial. 

As dez ave-marias 
Este elemento é o mais encorpado do Rosário e também o que faz dele uma oração mariana por excelência. Mas à luz da própria Ave Maria, bem entendida, nota-se claramente que o carácter mariano não só não se opõe ao cristológico como até o sublinha e exalta. De fato, a primeira parte da Ave Maria, tirada das palavras dirigidas a Maria pelo Anjo Gabriel e por Santa Isabel, é contemplação adoradora do mistério que se realiza na Virgem de Nazaré. Exprimem, por assim dizer, a admiração do céu e da terra, e deixam de certo modo transparecer o encanto do próprio Deus ao contemplar a sua obra-prima – a encarnação do Filho no ventre virginal de Maria. A repetição da Ave Maria no Rosário sintoniza-nos com este encanto de Deus: é júbilo, admiração, reconhecimento do maior milagre da história. É o cumprimento da profecia de Maria: “Desde agora, todas as gerações Me hão de chamar ditosa” (Lc 1, 48). 

O baricentro da Ave Maria é o nome de Jesus. Às vezes, na recitação precipitada, perde-se tal baricentro e, com ele, também a ligação ao mistério de Jesus que se está a contemplar. Ora, é precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao seu mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário. Já Paulo VI recordou na Exortação apostólica Marialis cultus o costume, existente nalgumas regiões, de dar realce ao nome de Cristo acrescentando-lhe uma cláusula evocativa do mistério que se está a meditar. É um louvável costume, sobretudo na recitação pública. 

Repetir o nome de Jesus – o único nome do qual se pode esperar a salvação (cf. At 4, 12) – enlaçado com o da Mãe Santíssima, e de certo modo deixando que seja Ela própria a sugeri-lo a nós, constitui um caminho de assimilação que quer fazer-nos penetrar cada vez mais profundamente na vida de Cristo. Desta relação muito especial de Maria com Cristo, que faz dela a Mãe de Deus, a Theotòkos, deriva a força da súplica com que nos dirigimos a Ela depois na segunda parte da oração, confiando à sua materna intercessão a nossa vida e a hora da nossa morte. 

O glória-ao-pai 
A doxologia trinitária é a meta da contemplação cristã. De fato, Cristo é o caminho que nos conduz ao Pai no Espírito. É importante que o glória-ao-pai, apogeu da contemplação, seja posto em grande evidência no Rosário. Na recitação pública, poder-se-ia cantar para dar a devida ênfase a esta perspectiva estrutural e qualificadora de toda a oração cristã. Na medida em que a meditação do mistério tiver sido – de ave-maria em ave-maria – atenta, profunda, animada pelo amor de Cristo e por Maria, a glorificação trinitária de cada dezena, em vez de reduzir-se a uma rápida conclusão, adquirirá o seu justo tom contemplativo, quase elevando o espírito à altura do Paraíso e fazendo-nos reviver de certo modo a experiência do Tabor, antecipação da contemplação futura: “Que bom é estarmos aqui!” (Lc 9, 33). 

A jaculatória final 
Na prática corrente do Rosário, depois da doxologia trinitária diz-se uma jaculatória, que varia segundo os costumes. Sem diminuir em nada o valor de tais invocações, parece oportuno assinalar que a contemplação dos mistérios poderá manifestar melhor toda a sua fecundidade, se se tiver o cuidado de terminar cada um dos mistérios com uma oração para obter os frutos específicos da meditação desse mistério.

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