quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O PAPA, O PRESERVATIVO E OS IMBECIS

Caros amigos, segue um belo artigo, enviado e traduzido pelo Pe. Samuel Pereira Viana (Mestre de Teologia Dogmática), entrevista esta que toca no ponto crucial da polêmica entre o Papa e o preservativo. Texto original: di Massimo Introvigne (Disponível no original em: http://www.cesnur.org/2010/mi_pre.html).

Do livro-entrevista do Papa: Luz do Mundo se deverá falar, no devido tempo, como merece. Hoje, ao contrario falemos dos imbecis. Das associações gays a alguns assim chamados tradicionalistas, todos dizendo que o Papa mudou a tradicional doutrina católica sobre os anticoncepcionais.

Títulos de nove colunas nas primeiras páginas. Exultação da ONU. Comentadores que nos explicam como o Papa tenha admitido que é melhor que as prostitutas se protejam com o preservativo da gravidez indesejada: e, porém, se se começa com as prostitutas, como não estender o princípio às outras mulheres pobres que não tem condições de cuidar dos filhos e depois a todos?

É mesmo uma pena que – como sempre acontece – os comentadores se tenham se deixado levar e tenham começado a afirmar coisas sobre a base de lances dos meios de comunicação sem ler a página inteira sobre o tema da entrevista de Bento XVI, que também faz parte das antecipações transmitidas aos jornalistas. O Papa, sobre o tema da luta contra a AIDS afirma que “a fixação sobre o preservativo implica uma banalização da sexualidade”, e que a “luta contra a banalização da sexualidade é também parte da luta para garantir que a sexualidade seja considerada como um valor positivo”.

No parágrafo sucessivo – traduzindo corretamente a partir do original alemão – Bento XVI continua: “Pode existir um fundamento no caso de alguns indivíduos, como quando um prostituto use o preservativo (wenn etwa ein Prostituierter ein Kondom verwendet), e isto pode ser um primeiro passo na direção de uma moralização, um primeiro passo para assumir a responsabilidade no caminho da redescoberta que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Mas não é o verdadeiro modo de enfrentar o mal da infecção do HIV. Isto pode basear-se somente sobre a humanização da sexualidade”.

Não sei se o volume italiano que sairá traduzirá corretamente “um prostituto como no original alemão, ou trará – como em algumas antecipações jornalísticas italianas, até mesmo – ai de mim! – também no L’Osservatore Romano – “uma prostituta”. “Prostituto”, no masculino, é péssimo italiano, mas é a única tradução de «em Prostituierter», e se se coloca a palavra no feminino a inteira frase do Papa não tem mais sentido. De fato, as prostitutas mulheres não “usam” o preservativo [ndt: mesmo havendo a chamada “camisinha feminina”]: no máximo os seus clientes. O Papa tem em mente a prostituição masculino, onde comumente – como reporta a literatura científica na material – os clientes insistes para que os “prostitutos” não usem o preservativo, e onde muitos “prostitutos – clamoroso é o caso do Haiti, de longa data um paraíso [Nat: ou inferno?] do turismo homossexual – sofrem de AIDS e infectam centenas dos seus clientes, muitos dos quais morrem. Alguém poderia dizer que “prostituto” se aplica também ao golo heterossexual que faz sexo por dinheiro com mulheres: mas o argumento seria capcioso porque é entre os “prostitutos” homossexuais que a AIDS é notoriamente epidêmico, a prescindir do fato que também em alemão para “prostituto”se usa correntemente o termo “gigolô”

Estabelecido, portanto que a gravidez não entra em questão, porque da prostituição homossexual é um pouco difícil que nasçam crianças, o Papa não diz nada de revolucionário. Um “prostituto” que tem uma relação mercenária com um homossexual – pela verdade, quem quer que tenha uma relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo, comete um pecado mortal, do ponto de vista da moral católica. Se, porém, consciente de ter AIDS, infecta o seu cliente conscientemente, além de pecado contra o sexto mandamento, comete também contra o quinto, porque se trata de homicídio, ao menos tentado. Cometer um pecado mortal ou dois não é a mesma coisa, e também nos pecados mortais há uma gradação. A imoralidade é um pecado grave, mas a imoralidade unida ao homicídio, é muito mais.

Um “prostituto” homossexual infectado pela AIDS que infecta sistematicamente os seus clientes é um pecador imoral e homicida. Se atingido por escrúpulos decide fazer aquilo que – certo ou com razão (o problema da eficácia ou da pouca eficácia do preservativo na relação homossexual não é mais moral, mas científico – lhe parece que possa reduzir o risco de cometer um homicídio não se torna imediatamente uma boa pessoa, mas deu um “primeiro passo” – certo que insuficiente e muito parcial – para uma resipicência [Nat: arrependimento eficaz]. Sobre o Barba Rocha ((Gilles de Rais, 1404-1440) se diz que atraía os meninos, tinha relações sexuais com eles e depois os matava. Se a um certo ponto houvesse decidido a fazer essas coisas horríveis com eles, mas depois, ao invés de matá-los, lhes deixasse ir, este “primeiro passo” não seria absolutamente suficiente para fazer dele uma pessoa moral. Mas podemos dizer que teria sido absolutamente irrelevante? Certamente os pais daqueles meninos teriam preferido tê-los de volta vivos.

Portanto, se um “prostituto”, assassino a um certo ponto, permanecendo “prostituto”, decide não ser também assassino, este “pode ser um primeiro passo”. “Mas - como diz o Papa- , este não é o verdadeiro modo de enfrentar o mal da infecção pelo HIV”. Seria necessário, muito mais, deixar de ser “prostituto” e de procurar clientes. A delicadeza do confessor em encontrar “estradas humanamente percorríveis” para tratar os casos práticos mais delicados de aplicação da doutrina católica – que não muda – no tema dos anticoncepcionais, invocada pelo Papa em outra parte do livro-entrevista, não se relaciona com o trecho que estamos discutindo sobre “prostituto”. É este o trecho que foi batido e rebatido em primeira página e provocou a espiral perversa de comentários apressadamente publicados antes de saber de que coisa de fato se estivesse falando. Aqui, porém, onde está a novidade e o escândalo se não na malícia de alguns comentadores? A propósito, ganha o prêmio pelo título mais absurdo a primeira nota da Associated Press, na versão inglesa (mesmo, por sorte correto, mas se encontra com este título: «Il Papa: la prostituzione maschile è ammissibile, purché si usi il preservativo» [ndt: O Papa: a prostituição masculina é admissível, desde que se use o preservativo]. Somente os imbecis confundem o Papa com Marrazzo [ndt: ex-governador do Lazio que se envolveu com travestis e foi chantageado, até que o escândalo explodiu. Casado e com filhos: um caso horroroso, mas que pelo que se tem notícia, após ter se retirado para fazer penitência e reavaliar a vida em Montecassino, buscou reconciliação tendo escrito seu pedido de perdão diretamente ao Papa], mesmo se ambos vivem em Roma.

2 comentários:

  1. Quando buscamos o sexo fora da Lei de Deus,na verdade buscamos só nos satisfazer,ter prazer.Naquele momento o outro não é uma pessoa que devo respeitar,é só um objeto que eu quero usar para calar meus instintos egoístas que grita ardentemente dentro e fora de mim.Depois de feito,a tristeza toma conta do coração,algo vazio que você precisa preencher e não compreendendo o por que,você se afunda mais e mais em busca de outras companhias,mas o vazio continua.Procurar o prazer fora do santo Matrimônio é fugir do Amor Verdadeiro,é pensar só em si e não ver no outro a pessoa de Cristo.A Castidade pelo contrário,nos faz ver Jesus no outro,respeitando o seu corpo que é Templo de Deus.A CASTIDADE e o AMOR,preenche todo o vazio do nosso coração.Lembre-se:"Quem Ama vê no outro não um objeto,mas um ser humano que foi criado a Imagem e Semelhança de Deus."

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  2. Tendo em conta a habitual ignorância e má-fé da imprensa secular ao noticiar fatos relevantes da vida da Igreja, apresentamos abaixo a íntegra da resposta do Papa Bento XVI sobre o uso de preservativos, em outro livro-entrevista de Peter Seewald.

    Veremos, neste episódio, se a costumeira rapidez da Sala de Imprensa da Santa Sé em lançar esclarecimentos sobre todo tipo de assunto também será verificada ao ter de ser politicamente incorreta ao contrariar a imprensa do mundo todo, que alardeia a plenos pulmões a “liberação” da camisinha pelo Papa.

    “Em África, Vossa Santidade afirmou que a doutrina tradicional da Igreja tinha revelado ser o caminho mais seguro para conter a propagação da SIDA/AIDS. Os críticos, provenientes também da Igreja, dizem, pelo contrário, que é uma loucura proibir a utilização de preservativos a uma população ameaçada pela SIDA/AIDS.”


    «Em termos jornalísticos, a viagem a África foi totalmente ofuscada por uma única frase. Perguntaram-me porque é que, no domínio da SIDA/AIDS, a Igreja Católica assume uma posição irrealista e sem efeito – uma pergunta que considerei realmente provocatória, porque ela faz mais do que todos os outros. E mantenho o que disse. Faz mais porque é a única instituição que está muito próxima e muito concretamente junto das pessoas, agindo preventivamente, educando, ajudando, aconselhando, acompanhando. Faz mais porque trata como mais ninguém tantos doentes com sida e, em especial, crianças doentes com sida. Pude visitar uma dessas unidades hospitalares e falar com os doentes.

    Essa foi a verdadeira resposta: a Igreja faz mais do que os outros porque não se limita a falar da tribuna que é o jornal, mas ajuda as irmãs e os irmãos no terreno. Não tinha, nesse contexto, dado a minha opinião em geral quanto à questão dos preservativos, mas apenas dito – e foi isso que provocou um grande escândalo – que não se pode resolver o problema com a distribuição de preservativos. É preciso fazer muito mais. Temos de estar próximos das pessoas, orientá-las, ajudá-las; e isso quer antes, quer depois de uma doença.

    Efectivamente, acontece que, onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. Tem de se fazer mais. Desenvolveu-se entretanto, precisamente no domínio secular, a chamada teoria ABC, que defende “Abstinence – Be faithful – Condom” (“Abstinência – Fidelidade – Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam. Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.

    Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por VIH/HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.»

    “Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos?”

    «É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.»

    In Bento XVI, Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos – Uma conversa com Peter Seewald, Lucerna, 2010

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